MANOELITO DE ORNELLAS Y SU TIERRA BRAVÍA

28.06.2013      04.00     PORTO ALEGRE, BRASIL
 Maria Alice Braga*


Pela passagem dos 110 anos de nascimento de Manoelito de Ornellas, faz-se necessário lembrar que o escritor itaquiense teve uma produção literária e jornalística bastante expressiva. Escreveu romances, ensaios, poesias, crônicas para jornais, editoriais e críticas. Proferiu discursos, conferências e palestras. Ministrou aulas em universidades, dirigiu jornais e, ainda, participou da política de seu Estado.
Poeta, romancista, historiador, ensaísta, orador, jornalista, sociólogo e crítico literário sensível, Manoelito de Ornellas revelou-se, desde cedo, um homem das letras. Hoje, é um escritor pouco conhecido do grande público, mas possui valor relevante para nossa cultura, já que sua obra está inscrita em um processo de afirmação das letras rio-grandenses no âmbito nacional e internacional.
Dentre a rica produção literária de Ornellas, vale lembrar uma das obras que marcou a vida do escritor: “Terra xucra”, publicada pela Livraria Sulina, em 1969, o primeiro livro de memórias que formaria uma trilogia com “Mormaço” e “Estuário', este inacabado. 
“Terra xucra” valoriza as coisas comuns da querência. O autor parte de suas impressões de menino e revive o cenário gaúcho, mostrando ao leitor uma forma de amar e respeitar a vida.
Em cada capítulo conta uma história. São textos originais e o autor pinta quadros muito vivos que remetem à paisagem, como no capítulo O Menino Pobre do Itaqui: “a paisagem mais constante da memória é a de uma cidade pequena, de casa com telhados baixos, de longos beirais, à margem de um rio largo e azul...” .( p. 19)
No capítulo O Solar, Manoelito fala da casa grande, da praça, do seu mundo. Descreve uma procissão, herança religiosa da colonização açoriana, e lembra: “À cauda da procissão, ia sempre, vestido de uma túnica azul de anjo, um tipo popular de [sua] cidade, carregando um oratório também azul...”. ( p. 32)
“Terra xucra” é também um capítulo que fala dos costumes do homem do campo, dos objetos do gaúcho, dos hábitos e da vida do campeiro, da cultura nascida nos galpões fincados no meio do campo, aquecidos e iluminados pelo fogo e cobertos de capim santa-fé. Manoelito caracteriza: “Terra de poucas culminâncias mas muitas histórias. Rincão bárbaro, teatro de duelos a facão. Estradas mal delineadas, em que as cruzes crioulas dos heróis de anônimas peleias bordavam de referências os campos”. (p. 68)
Quando Manoelito é obrigado a deixar o campo, rumo a terras estranhas, sente o afastamento de sua terra xucra. No capítulo A Transplantação, o autor descreve a paisagem que fica para trás: “Cada coxilha marcava uma etapa, um pouco de mim mesmo. Fui deixando tudo. Mas levava a nostalgia dos campos, a visão das latitudes imensas, o berço das minhas primeiras alegrias (...) o solo (...) , meu sangue à terra maternal”. (p. 179)

“Terra xucra” é uma obra que descreve a vida do escritor com momentos de alegria e outros de tristeza, mas mostra, acima de tudo, o respeito que tinha pela vida e pela terra. Acreditava que o único bem do homem é o solo onde nasce, lugar em que se encontra a verdadeira identidade do indivíduo.



* Doutora em teoria da literatura, professora universitária em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

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